segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Carta de uma senhora a seu ex-escravo, e a resposta indignada de um homem livre




Jarm Logue escravo eua carta
Jarm Logue (reprodução)


















Maury Co., Estado do Tennessee,
20 de fevereiro de 1860.
Para Jarm:
– Tomo minha caneta para escrever-lhe algumas linhas,
 para que você saiba o quanto estamos bem. Eu 
estou aleijada, mas eu ainda consigo me movimentar. 
O resto da família está bem. Cherry está tão bem como
de costume. Escrevo-lhe estas linhas para que você
saiba a situação em que estamos, em parte em 
consequência de sua fuga e roubo da Old Rock, nossa
bela égua. Embora tenhamos conseguido a égua de volta,
ela nunca mais teve o mesmo valor depois de você levá-la; 
e como agora necessito de alguns fundos, eu decidi 
vender você; e eu recebi uma oferta por você, mas não 
considerei adequado aceitá-la. Se você me enviar mil 
dólares e pagar pela velha égua, eu vou desistir de todas
as queixas que tenho contra você. Escreva-me logo que
você ler essas linhas, e diga se vai aceitar minha proposta.
Em consequência de sua fuga, tivemos que vender Abe 
e Ann e doze hectares de terra; e eu quero que você me 
envie o dinheiro para que eu possa resgatar a terra vendida, 
e no recebimento da quantia de dinheiro acima nomeada, 
vou enviar-lhe o seu recibo de venda. Se você não cumprir 
com o meu pedido, eu vou vendê-lo para outra pessoa, 
e você pode estar certo de que não vai demorar muito 
tempo para as coisas mudarem para você. Escreva-me, 
logo que você receber essas linhas. Dirija sua carta a 
Bigbyville, Maury County, Tennessee. É melhor atender 
ao meu pedido.
Eu soube que você é um pregador. Como o povo do sul 
é tão ruim, é melhor vir e pregar para seus velhos 
conhecidos. Eu gostaria de saber se você lê a Bíblia. 
Se sim, você pode dizer o que será do ladrão se ele 
não se arrepender? E, se a um cego guiar outro cego, 
qual será a consequência? Penso que seja desnecessário 
dizer muito mais que isso por ora. Uma só palavra é 
suficiente para o sábio. Você sabe onde o mentiroso tem 
sua parte. Você sabe que nós criamos você como 
criamos nossos próprios filhos; que nunca foi abusado, 
e que, pouco antes de fugir, quando o mestre perguntou 
se você gostaria de ser vendido, você disse que não iria 
deixá-lo por ninguém.
Sarah Logue.
———————-
Syracuse, NY, 28 de março de 1860.
MRS. SARAH LOGUE:
– Sua carta de 20 de Fevereiro foi devidamente recebida, 
e agradeço-lhe por ela. Um longo tempo passou desde que
eu ouvi de minha pobre e velha mãe, e fico feliz em saber 
que ela ainda está viva, e, como você diz, “tão bem como 
de costume”. O que isso significa, eu não sei. Gostaria que 
você tivesse dito mais sobre ela.
Você é uma mulher, mas, se tivesse o coração de uma mulher, 
você nunca teria me insultado dizendo que vendeu meus únicos 
remanescentes irmão e irmã, porque eu não me submeti ao seu 
poder de converter-me em dinheiro.
Você diz que vendeu meu irmão e irmã, ABE e ANN, e 12 hectares 
de terra, porque eu fugi. Você tem a inefável maldade de me 
pedir para voltar a ser sua miserável propriedade, ou em lugar 
enviar-lhe 1.000 dólares para que você possa resgatar a terra , 
mas não para resgatar meus pobres irmão e irmã! Se fosse 
para lhe enviar o dinheiro seria para reaver meu irmão e minha 
irmã, e não para você conseguir terra. Você diz que está aleijada, 
e sem dúvida você diz isso para que eu sinta pena, pois você 
sabe que eu sempre fui suscetível nessa direção. Eu sinto muito 
por você, do fundo do meu coração. Todavia, estou indignado 
além do que as palavras podem expressar, que você possa 
ser tão cruel a ponto de rasgar em pedaços os corações que eu 
tanto amo; que você esteja disposta a nos empalar e crucificar 
sem qualquer compaixão, por seu pobre pé ou perna. Mulher 
miserável! Saiba que eu valorizo ​​minha liberdade, para não 
falar de minha mãe, irmãos e irmãs, mais do que todo o seu 
corpo; mais, na verdade, do que a minha própria vida; mais do 
que todas as vidas de todos os donos de escravos e tiranos que 
existem sob o Céu.
Você diz que recebeu ofertas para me comprarem, e que você me 
venderá se eu não lhe enviar US$ 1000, e no mesmo fôlego e quase 
na mesma frase, diz: “você sabe que nós criamos você como criamos 
nossos próprios filhos”. Mulher, você criou seus próprios filhos para o 
mercado? Você os criou para o pelourinho? Você os criou para serem 
conduzidos acorrentados em fileiras como animais? Onde estão os 
meus pobres irmãos e irmãs sangrando? Você pode dizer? Quem foi 
que os enviou a campos de açúcar e algodão, para serem chutados, 
algemados, chicoteados, gemerem e morrerem; onde nenhum parente 
pudesse ouvir seus gemidos, ou sentir compaixão perante seu leito 
de morte, ou acompanhar seu funeral? Mulher miserável! Você diz 
que você não fez isso? Então eu respondo, seu marido fez, e você 
aprovou, e a carta que você me enviou mostra que seu coração 
aprovou tudo. Você devia se envergonhar.
Mas, por falar nisso, onde está o seu marido? Você não fala dele. Deduzo, 
portanto, que ele está morto; que ele foi pagar sua grande conta, com todos os 
seus pecados contra a minha pobre família sobre sua cabeça. Pobre 
homem! Foi encontrar os espíritos do meu pobre povo, humilhado e assassinado,
 em um mundo onde a Liberdade e a Justiça são MESTRES.
Mas você diz que eu sou um ladrão, porque eu levei a velha égua comigo. 
Você não entende que eu tinha mais direito sobre a velha égua, como 
você a chama, que MANNASSETH LOGUE teve sobre mim? É um pecado maior
 eu roubar o seu cavalo, que ele me roubar do berço da minha mãe? Se vocês 
acreditam que eu perdi todos os meus direitos pelo que fiz, não é certo deduzir 
que vocês perderam todos os seus direitos sobre mim pelo que fizeram? Você 
precisa aprender que os direitos humanos são mútuos e recíprocos, e que se 
você tomar a minha liberdade e vida, você perde o seu próprio direito à liberdade 
e à vida. Diante de Deus e do Paraíso, existe alguma lei para um homem que não 
serve para todos os outros homens?
Se você ou qualquer outro especulador sobre o meu corpo e os direitos quiser saber o 
quanto valorizo os meus direitos, terão que vir até aqui e impor as mãos sobre 
mim para me escravizar. Você acha que me aterroriza apresentando a alternativa 
de dar o meu dinheiro a você ou entregar o meu corpo para a escravidão? Então saiba
que recebi sua oferta com desprezo indizível. A proposta é uma afronta e um insulto. 
Eu não vou ceder nem mesmo um fio de cabelo. Eu não vou respirar sequer um fôlego 
mais curto para me salvar de suas perseguições. Eu vivo em meio a um povo livre, que, 
agradeço a Deus, simpatiza com os meus direitos e os direitos da humanidade; 
e se os seus emissários e vendedores vierem aqui para me re-escravizar, e escaparem
do vigor intrépido do meu próprio braço direito, eu confio que meus fortes e bravos 
amigos, nessa Cidade e Estado, serão os meus salvadores e vingadores.
Atenciosamente,
JW Loguen

Texto Original

http://www.lettersofnote.com/2012/11/wretched-woman.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário